Hoje, graças aos smartphones, você pode ficar famoso tirando e publicando fotos.
Com esses aparelhos, criar e consumir imagens e vídeos digitais nas redes sociais virou um passatempo para bilhões. Só que o conteúdo que os telefones podem criar não se compara à qualidade de uma boa câmera.
A startup britânica de Vishal Kumar, Photogram, quer unir as vantagens das câmeras mirrorless, com lentes intercambiáveis, sensores grandes e, muitas vezes, controles complexos, à inteligência e à conectividade do smartphone.
A câmera Alice, com lançamento previsto para outubro por cerca de US$ 760 para os primeiros apoiadores do projeto na plataforma de crowdfunding Indiegogo, é, em primeiro lugar, uma câmera compacta e mirrorless.
Porém, sua estrutura em alumínio é mais sofisticada que a de outras câmeras mirrorless. Ela não tem tela nem visor, apenas o botão do obturador, um dial de modo e um adaptador para a sapata.
Para usar a câmera Alice, os fotógrafos só precisam conectá-la ao smartphone. Além de poder ser fixada a várias lentes, ela tem o que os celulares não têm: um sensor grande com ampla captura de luz.
A Alice se comunica com o smartphone por uma conexão Wi-Fi de 5 Ghz. Assim, o aparelho pode fazer o que as câmeras tradicionais não conseguem. A aplicação para celulares apresenta uma interface de software atualizável na tela do smartphone e traz a conectividade para compartilhar imagens e transmitir vídeos facilmente.
O ingrediente secreto é uma AI criada com o deep learning acelerado por GPU da NVIDIA para ajudar fotógrafos a aproveitar ao máximo o hardware da Alice.
Nasce uma Estrela
A startup de Kumar faz parte do NVIDIA Inception, um programa de aceleração que oferece suporte, expertise e tecnologia go-to-market para startups de AI, ciência de dados e HPC. Para o fundador, a oportunidade desse dispositivo está literalmente na cara das pessoas.
Há mais de 1 bilhão de usuários ativos no Instagram, mais de 1 bilhão no TikTok e mais de 2,3 bilhões no YouTube. Os influenciadores de redes sociais que oferecem conteúdo de qualidade a essas pessoas se tornaram celebridades internacionais da noite para o dia, explica Kumar.
Alguns exemplos são Charli D’Amelio, que tem mais de 115 milhões de seguidores; Addison Rae, com mais de 86 milhões; e o youtuber Mr. Beast, com mais de 71 milhões de seguidores.
Grande parte do público dos criadores de conteúdo são usuários de smartphones. Porém, a maioria desses profissionais deixaram de usar os aparelhos há muito tempo e adotaram equipamentos mais sofisticados para criar conteúdo.
Frustração em Primeira Mão
Kumar, que se autointitula cientista de dados cultural, viu isso com os próprios olhos quando trabalhava como cientista de dados na Sotheby’s. Fotografias de qualidade foram essenciais para despertar o interesse mundial nas ofertas da empresa de leilões nas redes sociais.
“Pensava muito sobre como a ciência de dados, o machine learning e a AI poderiam ser aplicados para criar vídeos e imagens. Usava uma câmera o tempo todo para criar conteúdo em vídeo e fiquei cada vez mais frustrado com o funcionamento dela”, afirma Kumar.
Uma Câmera para Criadores
Criadores de conteúdo sérios precisam, sem dúvida, de uma câmera melhor que a do smartphone deles.
Isso se deve, em parte, ao fato de que os sensores relativamente compactos dos smartphones atuais não capturam muita luz, segundo Kumar. Sensores maiores absorvem mais luz e capturam uma imagem de alta qualidade, mesmo em condições de iluminação muito baixa, além de ter outras vantagens.
A Alice foi criada com base em um sensor 4/3 Sony IMX294 de 10,7 megapixels otimizado para vídeo em 4K de alta qualidade e largura total. O sensor é 8 vezes maior que o de um smartphone comum.
Na frente desse sensor grande, há uma lente Micro Four Third fixada. O sistema compacto de lentes intercambiáveis oferece aos usuários acesso a mais de 100 opções de lentes da Olympus, da Panasonic e de fabricantes especializados em lentes, como a Sigma, a Tamron e a Tokina.
Os usuários podem, por exemplo, escolher uma lente de olho de peixe equivalente a 16 mm para ter um ângulo de visão superamplo. Para obter imagens nítidas e sem distorção de objetos distantes, eles podem usar uma lente de ampliação para celulares equivalente a 800 mm, e há diversas opções além dessas.
Um Problema Clássico do Deep Learning
É por isso que fotógrafos profissionais continuam carregando câmeras grandes e caras no kit de ferramentas deles. Porém, talvez a maior parte dos criadores de conteúdo nunca chegue a aproveitar todos os recursos das câmeras dedicadas, explica Kumar.
Oferecer mais expertise por um preço mais acessível a um público maior é um problema clássico do deep learning. Como a tecnologia é baseada na visão computacional e no reconhecimento de imagens, ela é ideal para treinar uma AI usada para operar uma câmera.
Para criar a AI da Alice, o CTO da Photogram, Liam Donovan, treinou uma rede neural convolucional acelerada por GPU da NVIDIA usando milhões de imagens focadas e desfocadas, ensinando a AI a distinguir fotos boas de ruins.
Otimizada para o que Você Faz
A AI é um elemento fundamental no pipeline de processamento de imagens por deep learning de ponta a ponta que a equipe da Photogram criou.
O resultado é uma AI que pode controlar e melhorar o foco, alterar a exposição, ajustar automaticamente o equilíbrio de branco e, até mesmo, realizar a estabilização automática de imagens.
Os usuários poderão otimizar a Alice para o tipo de fotografia que eles fazem, segundo Kumar.
“Digamos que você seja fotógrafo de casamentos ou goste de tirar fotos de gatos ou roupas. Queremos que as pessoas possam usar nossos modelos e treiná-los novamente a fim de otimizar a câmera Alice para o tipo de fotografia que elas fazem”, afirma Kumar
Sinergia com Smartphones
Revelado em setembro do ano passado e apresentado por Kumar como “a câmera com AI para criadores”, em fevereiro, o projeto arrecadou US$ 200 mil de mais de 250 apoiadores, um número 7 vezes maior que a meta original de Kumar.
Na verdade, como todos os projetos incipientes desse tipo, a Alice ainda é um protótipo. Por enquanto, o plano é oferecê-la aos apoiadores no Indiegogo primeiro e depois para o público geral.
Independentemente da avaliação inicial da Alice, como todos os dias bilhões de pessoas ao redor do mundo criam e compartilham imagens, uma hora ou outra a ideia vai pegar.
Créditos da imagem: Photogram